Rachel Sheherazade verbaliza nossa opinião


O marginalzinho amarrado ao poste era tão inocente que ao invés de prestar queixa contra os seus agressores, ele preferiu fugir, antes que ele mesmo acabasse preso.

Esse foi o começo de um dos comentários mais polêmicos e comentados dos últimos dez dias, envolvendo a jornalista e personagem da fala Rachel Sheherazade, âncora do principal telejornal do SBT, o SBT Brasil.

O comentário (que na realidade, teve mais do que um minuto de duração, em pleno horário nobre da rede pública de televisão), foi realizado após um caso que chocou todo o estado do Rio de Janeiro.

Um garoto, um bandido que já tinha algumas passagens pela polícia foi flagrado por aproximadamente 15 jovens de seu bairro, os quais presenciaram um assalto realizado pelo garoto.

Sendo assim, o grupo decidiu amarrá-lo a um poste com o auxílio de uma trava de bicicleta, deixá-lo nu, e depois espancá-lo.

A questão, é que violência é fator determinante para que se gere mais violência. A jornalista, que diz compreender a ação tomada pelo grupo considerando-se que vivemos em um país de governo omisso e polícia sem ações, não deixa de gerar violência, ao considerarmos que a mesma expressou tal opinião em rede nacional, em pleno horário nobre da emissora.

Rachel Sheherazade, o grito da sociedade

Rachel Sheherazade

Mas, por outro lado, há de se dizer que a jornalista foi muito corajosa em expor não só a sua opinião sobre o tema, como a de diversos cidadãos brasileiros.

Não deixando ela então de verbalizar a opinião dos oprimidos pela falta de justiça que se instalou em território brasileiro.

O extremismo gera extremismo. É perigoso os indignados com a violência se ajuntar em grupos para fazer justiça. Igualmente perigoso é morrer nas mãos de bandidos, sofrer calado sob um manto de covardia.

Com diversas passagens na polícia e mais um assalto presenciado, o grupo de jovens fez questão de fazer justiça com as próprias mãos.

Na teoria, os dois lados estão errados. Um, está colocando em risco todos os moradores e comerciantes próximos da região com os seus assaltos.

Enquanto o grupo usou mais uma vez do extremismo e da violência para se defender, fazendo isso de uma forma que não deixa de ser covarde: prendendo e espancando o garoto, quando o certo deveria ser apresenta-lo a autoridade policial.

Mas afinal, aqui fica uma questão: o que teria sido feito com o garoto, se, ao invés de preso e agredido, ele tivesse ficado solto e o grupo, mesmo que insatisfeito, simplesmente chamasse a polícia?

Não devemos nos esquecer de que, como a própria jornalista nos diz em seu editorial publicado após a proliferação do caso, vivemos em um dos 20 países mais perigoso de todo o mundo, onde um criminoso confesso ou um preso em flagrante é facilmente liberado pela porta das frentes nas delegacias de todo o país.

Em meio à um “Estado omisso, justiça falha e polícia desmoralizada”, é realmente fácil compreender a defesa com as próprias mãos.

Considerando ainda que o fato ocorreu em Flamengo, no Rio de Janeiro, onde, até onde se sabe, é possível presenciar assaltos diariamente sem que seja feito nada pelo público.

Ainda segundo o comentário de Rachel Sheherazade, o contra-ataque ao bandido é chamado de legítima defesa, assim como previsto no artigo 23 do Código Penal.

O inferno astral de  Rachel Sheherazade

Atualmente, a jornalista Rachel Sheherazade passa por uma situação de risco para a sua carreira. Ameaças e perseguições já fazem parte de sua rotina nos últimos dias.

Considerando ainda que tudo o que ela fez foi utilizar-se da liberdade de imprensa juntamente com a força que lhe é atribuída como âncora do jornal SBT para fazer um comentário que certamente se encaixa com a opinião de muitos brasileiros que estão cansados da falta de justiça que toma conta do país.

Considerando que o Brasil atualmente arquiva mais de 80% de inquéritos de homicídio, enquanto o cidadão é desarmado e não pode nem mais agir em legítima defesa: seja ela de sua pessoa, de seu bairro ou do seu povo.

PSOL representar contra Rachel Sheherazade

O PSOL (Partido Socialismo e Liberdade decidiu protocolar perante o Ministério Público uma representação contra a jornalista e apresentadora, afirmando que a mesma está fazendo, em rede pública e nacional, a defesa de extremismo, da violência e da tortura.

Mesmo que em momento algum a jornalista tenha aceitado isso, mas unicamente compreendido a ação do grupo de jovens.

Além disso, Rachel Sheherazade também é acusada por supostamente incitar à criminalidade, assim como as ações de linchamento e tortura em plena rede nacional.

Para o deputado federal Ivan Valente, a jornalista abusa da liberdade de imprensa e de sua função no telejornal para fazer apologia ao crime, induzindo os indivíduos a pensar que é certo realizar justiça com as próprias mãos.

Inclusive, para o mesmo, falar isso em frente à toda população brasileira “atrás daquilo que não se investe em saúde, em educação, em mobilidade urbana” é um erro.

A distorção de valores

Rachel Sheherazade termina o seu comentário propondo para os defensores de direitos humanos que ficaram chocados com o caso que façam um favor para o Brasil e adentrem à campanha: Adote um bandido, o que causou ainda mais polêmica para o caso. E é por conta disso que atentamos também para um fato: é visível no Brasil a distorção de alguns valores.

Enquanto o cidadão brasileiro trabalha e paga parte de seu salário mensal para o governo, e em troca não recebe nem segurança pública de qualidade, os bandidos são protegidos, beneficiados, e moralizados perante os direitos humanos, e as vítimas? Pois é, essas, continuam desamparadas.

Por fim, podemos analisar que as palavras da jornalista Rachel Sheherazade se enquadram e encontram refúgio no pensamento de muitos indivíduos brasileiros que estão cansados da violência do país, da falta de segurança pública e da neutralização da polícia.

Considerando que, se analisarmos por outro viés e assunto polêmico, nada está faltando para Cuba ou para a Copa: somente para a segurança, educação e saúde pública.

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