Dia desses, uma amiga pediu meu endereço físico porque ela queria me mandar uma carta. Lembrei da discussão que tivemos no dia anterior sobre a era digital e na hora falei: manda no e-mail ! E recebi como resposta: quero te mandar um presentinho que tem de ser entregue pessoalmente.
Terminado nosso contato, fiquei meditando na conversa do dia anterior um longo tempo. Comecei a pensar em quantas coisas deixamos de sentir e até mesmo receber por causa da tecnologia e das facilidades que um iphone ou tablet podem nos trazer.

É muito fácil conhecer alguém e dizer “te amo” porque não precisa olhar nos olhos da pessoa e se sentir constrangido ou ansioso, você tecla, manda e pronto! Com certeza, receberá de volta uma carinha feliz com beijinho de coração, ou o bonequinho que tem corações nos olhos.
Mais interessante ainda é que você pode namorar alguém que mora do outro lado do mundo e ver essa pessoa todos os dias através da webcam, muitas vezes ela estará mais próxima de do que seu vizinho que você nem sabe o nome.
Da mesma forma que o suposto sentimento, a intimidade também é maior. É fácil fazer sexo com alguém que está a milhas de distância, ninguém precisa estar realmente no ponto para uma transa virtual.
Você não sente o cheiro do cigarro e nem tem que ficar fazendo carinho depois, desliga a cam e pronto, como virar para o lado e só dar boa noite.
Mas, o que perdemos realmente com toda essa tecnologia? Que coisas deixamos de aproveitar e sentir quando resolvemos nos relacionar apenas através do whats ou no chat dos grandes portais?
A era digital diminuiu os abraços e beijos
Antigamente namoro era pegar na mão, roubar um beijo, ficar sentado no sofá na frente do pai e da mãe, mentir que ia dormir na casa da amiga para escapar com o namorado.
Achar tempo para se ver no final do dia de trabalho, receber um cartão de verdade nas datas especiais e sentir o cheiro das flores reais.
A paquera, que é a melhor parte do relacionamento, dava dor de barriga. Quando a pessoa passava e lançava um olhar parecia que íamos derreter.
O olhar, que é a maior demonstração da nossa alma, ficou em segundo plano. Não conseguimos mais ver os olhos das pessoas, porque todas estão da cabeça abaixada, mexendo no celular.
Acabou-se a chance de uma boa paquera. Logo, diminuíram-se também as dores de barriga de milhares de borboletas no estômago.
Muitas vezes vemos casais de pessoas idosas de mãos dadas e achamos aquilo tão maravilhoso e não entendemos muito bem porque. Sabemos que, se a coisa continuar como está, poucos relacionamentos durarão tanto tempo com a mesma vitalidade.
Transa virtual é traição?
É tudo muito fácil. Você conhece pessoas novas todos os dias, a cada minuto. É só ligar o celular ou o notebook para estar na rede que conecta as pessoas, desconectando os corações. A pergunta da vez é: “transa virtual é traição?”.
Quer ter certeza que seu relacionamento é sério? Veja se sua cara metade muda o status do perfil no Facebook para “em um relacionamento sério com”. Caso isso aconteça é porque a coisa é séria e pode até virar um casamento.
Com a era tecnológica o amor ficou mais fácil e mais difícil. Mais fácil porque, as coisas que teclamos, não temos coragem de dizer pessoalmente. Mais difícil porque agora para dar um abraço é preciso marcar horário ou evento especial.
Os valores se perderam por conta da facilidade dos cliques. As brigas resolvem-se ficando “offline” ou bloqueando a pessoa na rede social. Não se perguntam mais os gostos ou pensamentos. Olha no Facebook o que a pessoa posta e curte e presume-se que já a conhece como se fossem amigos há anos.
Onde foram parar as reuniões na casa dos amigos? Nestas ocasiões, cada um levava um prato de doce ou salgado e uma conversa descontraída e ruidosa ia até altas horas da madrugada.

O frio na barriga de pegar na mão pela primeira vez e saber se rola uma química? Sem química não somos ninguém ! A era da informação roubou nossa química!
A era tecnólogica é muito boa, permite que fiquemos sabendo dos amigos a qualquer momento. Os recados são rápidos e objetivos, mas o abraço apertado.
O beijo na boca, a troca de olhares, dormir de conchinha, fazer amor de madrugada, tudo isso não pode ser trocado pela simplicidade de um clique ou uma mensagem no whatsapp.
Juraci Rocha, um paulistano já cinquentão é Consultor de Expressão Verbal e Escritor com diversas obras publicadas. O editor escreve neste blog com o propósito e expectativa de apresentar o homem, poço de incoerências, um retrato de imprevisibilidade