Carl Jung e a influência do esteticismo de Goethe

É preciso compreender a obra de Carl Jung e talvez o melhor texto para ver como o psicólogo suíço tropeçou nas próprias pernas seja no ensaio publicado em 1945, “Depois da Catástrofe” (inserido no livro Aspectos do Drama Contemporâneo, editado pela Vozes).

É certo que esse texto só será compreensível, em todo o horror de suas contradições, se se conhecer bem a obra e a biografia de Carl Jung, portanto não é leitura para iniciantes.

O ensaio foi escrito para que ele, Jung, dissesse o que realmente pensava de Hitler e dos acontecimentos dramáticos da II Guerra Mundial. Ao término da guerra os rumores de que era nazista estavam vivos.

O primeiro gesto de tirar o corpo fora de Carl Jung sobre a sua responsabilidade pessoal sobre os acontecimentos foi ele atribuir os fatos aos alemães da Alemanha.

Jung sempre se declarou alemão, narrava com prazer sua “nobre” ascendência bastarda desde Goethe e se sentia alemão.

Tudo que foi feito por Hitler e pela Alemanha era em nome e para o pan-germanismo. É claro que o Estado nacional alemão assumiu o comando de tudo.

Mas vimos como em diversos países (até no Brasil!) os verdadeiros alemães apoiaram com entusiasmo a estranha ideia que eram um povo superior, fadado a dominar o mundo. Bem vimos no que deu.

Carl Jung sabia perfeitamente bem a origem de tudo, mas não teve a coragem moral de assumir sua própria responsabilidade.

Ao contrário, Thomas Mann engajou-se no esforço de guerra contra a barbárie e escreveu o monumental Doutor Fausto, livro no qual faz o acerto de contas consigo mesmo e sua própria história familiar.

Carl Jung, agente do mal

Ao atribuir uma suposta culpa coletiva sobre os alemães, Jung pulou o capítulo de sua própria responsabilidade. O próprio Jung fundou em torno de si um culto satânico no qual os sacerdotes acreditados eram os seus seguidores “analisados”.

Jung cultuava o mal com todas as letras, como bem demonstrei nas minhas palestras sobre o Livro Vermelho.

A raiz mais geral para o que houve naqueles tempos está na Reforma Religiosa, que teve a nefasta consequência de transformar a Igreja Universal em igrejas nacionais, comandadas segundo interesse político.

Na Alemanha, o passo seguinte foi humanizar o Cristo, negando-lhe a condição divina, juntamente com as ideias pagãs do neoplatonismo. Chegou-se a falar em um Cristo “alemão”.

A influência de Goethe

No século XVIII, sob a influência poderosa de Goethe, tivemos o esteticismo, que propôs a salvação pela Arte. Aqui compreendida em sentido amplo, inclusive nas práticas esotéricas das artes alquímicas.

O passo final foi decretar a morte de Deus e tivemos o surgimento de Nietzsche no esplendor de toda sua loucura para fazê-lo. Era o João Batista anunciadora do novo Cristo, Carl Jung ele mesmo.

Carl jung
Na imagem, Carl Gustav Jung, considerado o pai da psicologia analítica

Esse é o trilho que explica Hitler e Carl Jung foi o maior divulgador dessa tradição esteticista. Ele se considerava, (e de fato era), o maior seguidor de Goethe e Nietzsche (e Wagner).

Caberia a Jung um mea culpa ter dito isso no ensaio: que ele preparou gerações de pessoas, sejam os seus leitores, sejam os seus analisandos/pacientes, para aceitar voluntariamente o mal como se bem fosse, e servi-lo.

Ele fundou um culto satânico tão esdrúxulo que elevou o Zaratustra de Nietzsche à condição de profeta e ele mesmo, Jung, á condição de um novo salvador, em substituição à Cristo. Nada dos crimes ocorridos na Alemanha são alheios a Jung e sua obra.

A loucura delirante de Carl Jung foi tamanha que se recusou a traduzir o poema de Nietzsche O Canto Noturno no seminário que deu sobre o Zaratustra, na década de Trinta.

Segundo ele, ali falaria o próprio deus/Zaratustra e o alemão passou a ser uma língua sagrada. Algo como são o hebraico para os judeus e o latim para os católicos.

A falsa ética de Nietzsche

O culto fundado por Jung negava os valores cristãos e tentava implantar a falsa ética pagã pregada por Nietzsche, todos os falsos valores da Nova Era defendida pelo psicólogo suíço.

Toda a elite alemã (pan-germânica) sabia o Fausto, de Goethe, de cor. O livro virou a bíblia para a alta cultura dos falantes de alemão. Ali estaria a verdade. Carl Jung acreditava nisso.

Pregou isso. Viveu isso em toda a intensidade. E, na vida pessoal, adotou a nova ética, praticando a poligamia consciente em franca oposição aos valores cristãos.

Pior ainda, fez do andrógino um símbolo de totalidade e algo a ser buscado, legitimando a eclosão do homossexualismo como hoje o conhecemos. De certa forma, para Jung, a androginia tornava o sujeito mais filho de Deus.

No texto, Carl Jung ridiculariza a figura de Hilter, sem dizer de si uma única palavra de reprovação. Nenhuma autocrítica. E, depois de 1945, continuou a cultivar e a divulgar a sua psicologia analítica, como se nada tivesse acontecido.

Como se tudo não pudesse se repetir novamente. Colocar o demônio no lugar de Deus tem consequências.

Carl Jung escreveu que Hitler era um pseudólogo, como se ele próprio não fosse um. O Livro Vermelho revelou que Jung fez também seu próprio pacto faustico, ainda mais delirante que o de Hitler.

Ele empenhou-se em fundar uma religião, da qual, seria o sumo sacerdote. O nazismo foi apenas a expressão política deves movimento mais amplo de cunho cultural e religioso.

Carl Jung escreveu: “Ao dizer que os alemães estão psiquicamente doentes estou sendo mais benevolente do que se dissesse que são criminosos”. Uma frase perfeita que poderia bem ser aplicada a si mesmo.

Endeusando o cinismo

Mais à frente: “(o alemão) Esqueceu seu cristianismo. Vendeu o espírito à técnica. Trocou a moral pelo cinismo e consagrou sua maior aspiração às forças de aniquilação”. Teria sido uma bela confissão se Jung estivesse falando de si mesmo e não no coletivo alemão.

Não, o problema alemão não é a emergência de forças coletivas incontroláveis. É um problema de pessoas individualmente comprometidas com o mal. O pacto fáustico pressupõe sempre um “sim” consciente ao mal por cada um. Carl Jung fez isso. Nietzsche fez isso.

Goethe também. Levou séculos para que esse mal fosse transformado e potenciado em fornos crematórios e em matanças generalizadas, inclusive de alemães. Não se dá as costas à conversão, ao Bem, sem se pagar alto preço.

Nivaldo Cordeiro

José Nivaldo Gomes Cordeiro é economista e mestre em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas

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